HEUTAGOGIA – Uma nova forma de aprendizagem
Nosso processo educacional se inicia quando
somos ainda crianças. Nossos pais e nossos professores, através da Pedagogia,
nos obrigam a aceitar como verdades tudo que nos é ensinado, independentemente
da nossa vontade.
Na Pedagogia, é o professor que decide o que
ensinar e como ensinar, sendo que cabe à criança e ao adolescente aprender
aquilo que a sociedade espera que saibam, dentro de um currículo padronizado de
assuntos e matérias pré-determinados. Aqui o ensino é puramente didático,
teórico e as experiências dos alunos tem pouco ou nenhum valor.
À medida que as pessoas vão se tornando
adultas, elas sofrem uma série de transformações, as quais, de acordo com
Knowles, são:
- passam a ser indivíduos independentes autodirecionados;
- acumulam experiências de vida que vão ser fundamento e substrato de
seu aprendizado futuro;
- seus interesses pelo aprendizado se direcionam para o
desenvolvimento de habilidades que utiliza no seu papel social, na sua
profissão;
- esperam aplicar, na prática, e de forma imediata, aquilo que
aprendeu o que reduz seu interesse por conhecimentos que poderão ser-lhes
úteis no futuro.
Devido a isso, a educação dos adultos,
denominada Andragogia, apresenta características totalmente diferentes da
Pedagogia, tais como:
- a aprendizagem está mais centrada no aluno, na independência e na
autogestão da aprendizagem;
- o adulto aprende aquilo que realmente precisa saber, visando sua
aplicação imediata;
- apesar de ser sensível à estímulos de natureza externa, como notas
e avaliações, sua motivação é mais
interior, intrínseca, visando aumentar sua satisfação, sua autoestima, sua
qualidade de vida, etc.;
- a experiência é a fonte mais rica da aprendizagem, pois leva à
novas dimensões e à solução de problemas;
- os adultos se dispõem a aprender desde que compreendam sua
utilidade para melhor enfrentar problemas reais de sua vida diária.
Como o foco é a obtenção de conhecimentos
através de situações reais (experiências), os papéis do facilitador (professor)
e o do aprendiz (aluno) deixam de existir, pois ambos são adultos e trazem
consigo um número variado de experiências.
No processo andragógico ambos ensinam e ambos
aprendem com suas experiências mútuas e onde o facilitador deve demonstrar a
importância prática do assunto e como aquele conhecimento fará diferença na
vida do aprendiz a ponto de mudar sua vida e a de outras pessoas.
De uma forma geral, Pedagogia e Andragogia
podem ser assim caracterizadas:
HEUTAGOGIA
Nos anos 2000 surge um novo modelo de
aprendizagem proposto por Stewart Hase e Chris Kenyon denominado Heutagogia,
termo derivado do grego onde heutos significa auto, próprio e agogus significa
guiar.
Nesta forma de aprendizagem, o aprendiz é quem
determina como, quando e o que deve ser aprendido com o uso da tecnologia,
caracterizando este processo como autodirigido e autodeterminado.
É de Fredric Litto, presidente da Associação
Brasileira de Ensino à Distância (ABED) a seguinte afirmação:
“Já passamos pela Pedagogia, método que o
professor determina o que e como aprender. Estamos tentando utilizar a
Andragogia, teoria na qual é o professor quem determina o que, mas é o aluno
quem determina como. Mas hoje, já temos de ingressar na Heutagogia, método pelo
qual é o aprendiz quem fixa o que e como aprender”.
A Heutagogia está diretamente relacionada com
a tecnologia da informação e comunicação (TIC) e às inovações proporcionadas
pelo e-learning ou ensino à distância.
As fontes tecnológicas para adquirir o
conhecimento são:
- Satélite – transmissão de teleaulas com sinal digital;
- Videoaulas – aulas pré-formatadas para reprodução;
- Impressos – livros didáticos e atividades de
aprendizagem;
- Internet – uso progressivo de ambientes virtuais de
aprendizagem;
- Videoconferência – aulas, atividades
interativas, etc.;
- Telefonia – monitoria, tutoria, call center, etc.
E o Prof. Litto complementa: “acredito que
frente à disponibilidade do conhecimento existente no mundo digital,
constitui-se um retrocesso o fato de um professor ditar as regras para ensinar
um determinado assunto do jeito que ele quiser”.
A Heutagogia, como a Andragogia, aceita e
reconhece as experiências da dia-a-dia como fonte de aprendizado, as quais
podem ser acessadas de forma informal (estudos independentes) ou através de
alguma forma de conexão com colegas de profissão, tutores ou mentores.
Esta forma de aprendizagem também tem sua importância
no que diz respeito à assimilação de novos conhecimentos para o desenvolvimento
de novas habilidades, exigência de um mundo em constante mutação.
O uso da TIC torna este processo mais rápido
para se adquirir o conhecimento e, ao mesmo tempo, mais flexível, porque será o
aprendiz que vai determinar qual a parcela de tempo que ele usará para isso.
Dentro do ambiente corporativo, através da
Heutagogia, poderão ser desenvolvidos programas de capacitação, treinamentos e
tudo que possa contribuir para o desenvolvimento de seus colaboradores, dentro
dos objetivos e da cultura da organização.
Embora, teoricamente, não exista a figura do
facilitador (professor), a presença de um tutor ou de um mediador pode ser
necessária para orientar as escolhas do aprendiz e para disponibilizar os meios
para que o processo seja eficaz. Sua atuação é muito mais de apoio para que o
aprendiz alcance seus objetivos.
Com todas estas características, a Heutagogia
acaba tornando as pessoas mais proativas e, consequentemente, mais preparadas
para atuar em cenários dominados pelo binômio saber-fazer.
Sem dúvida, a Heutagogia é o modelo de
aprendizagem mais atual e vem contribuir, de forma significativa, para uma nova
e moderna forma de aprendizagem, onde dominam a TIC e os ambientes virtuais.
Pela Heutagogia tornam-nos autônomos para
buscar o conhecimento existente no mundo digital e construir nosso próprio
caminho. E, se melhorarmos como pessoas, certamente iremos contribuir para a
melhoria do ambiente onde vivemos.
(Postado por Valéria Albuquerque - Real Consultoria e Serviços).